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REDESCOBERTAS EDUCACIONAIS: UMA ANÁLISE DAS PRIMEIRAS SEMANAS DE ENSINO REMOTO EM BOA VISTA

por Mateus Araújo Publicado em 29/05/2020 às 13:56

Dois meses após o início da suspensão das aulas presenciais para conter a transmissão do coronavírus, e quase um mês após o início das aulas remotas, buscamos analisar como está o retrato da educação no nosso município em tempos de pandemia.

A nossa reportagem procurou ouvir estudantes, pais, professores, psicóloga, e gestão administrativa para expor o que vem sendo realizado nas últimas semanas. Em Boa Vista, o ano letivo iniciou no dia 10 de fevereiro, no entanto, devido a pandemia, as aulas precisaram ser suspensas no dia 27 de março, mas voltando em regime remoto desde o dia 4 de maio. Atualmente, são 1333 alunos matriculados na rede municipal de ensino.

O maior desafio desse “ensino remoto de emergência” recai sobre os educadores. Como adaptar os conteúdos, as dinâmicas de sala, as aulas expositivas e as avaliações – sem prejudicar o processo de aprendizagem? Como manter os alunos interessados e engajados? A tarefa é ainda mais complexa para aqueles que atuam em áreas distantes da tecnologia ou que lecionam para crianças.

Em relação ao novo coronavírus, a psicóloga Patrícia Vitorino fala que: “Todo o mundo foi pego de surpresa, o que causou consequências desastrosas na vida das pessoas, ampliando os níveis de ansiedade, estresse e outras doenças psíquicas que impactam diretamente a saúde mental dos indivíduos. Isso não foi diferente da relação tríade da educação atual que envolve as figuras dos professores, alunos e pais, onde a cada dia há a necessidade de adaptações em relação ao desenvolvimento da aprendizagem”, explicou.

A secretária de educação do município Berlita Macêdo, relatou que foi feito um levantamento por turma para identificar melhor a demanda dos alunos que tiveram acesso às atividades e deram devolutivas aos professores. Ela esclarece que, nos primeiros quinze dias, dos 189 alunos matriculados na educação infantil, apenas 9 não estavam dando retorno das atividades. No Fundamental I, 16 dos 588 alunos não haviam dado retorno, e no Fundamental II, dos 391 alunos, 24 não haviam apresentado um feedback. Como nem todos os estudantes do município têm acesso a computadores e à internet de qualidade, atividades impressas estão sendo entregues para que nenhum aluno seja prejudicado. 

Segundo Berlita, o resultado foi surpreendente, “um número  expressivo dos nossos alunos têm participado efetivamente  deste novo processo emergencial, que foi necessário  adotarmos. Os números, mesmo sendo bem positivos, ainda não nos deixam acomodados, pelo contrário, estamos fazendo uma busca ativa dos inadimplentes, e alguns já iniciaram suas atividades com sucesso.  Queremos que todos sejam assistidos, cada segmento tem sua especificidade, ninguém ficará  sem atendimento. Este é  nosso objetivo”, revelou. 

 A secretária de educação do município reforça que a colaboração da família é essencial nesse momento novo na educação: “a participação  da família tem todo um diferencial. Notamos também que os alunos que não  haviam dado retorno, eram os mesmos que tinham dificuldades nas aulas presenciais. Estamos no caminho possível  até o momento.  Sempre ressaltando que, quando voltarmos às  atividades presenciais, estaremos munidos para dar uma atenção especial à cada educando, observando suas dificuldades e redirecionando-o para aulas de reposição”, concluiu.

Mas como é essa nova rotina de estudos na prática? Para tentar responder este questionamento fomos em busca dos relatos de algumas mães que agora estão acompanhando o aprendizado dos filhos dentro das suas próprias casas.

A agricultora Girlene Santos, residente do Assentamento Quebra-Quilos no imóvel rural Fazenda Angicos/Olho D’água, é mãe do aluno José Gutemberg da Silva Barbosa, estudante do quinto ano com a professora Gitana na Escola João Leite, revela que não está sendo um processo fácil, mas as alternativas viáveis estão suprindo a necessidade educacional do seu filho: “no começo fiquei um pouco limitada porque eu dependia de dados móveis, então eu não tinha um acompanhamento tão bom do ensino a distância, mas consegui colocar internet via satélite na minha casa, o que facilitou o processo. Também recebemos atividades impressas, quando tenho dúvidas eu consigo consultar a professora”, disse.

Para Andréa Macêdo, mãe da Letícia do Pré 2, e da Lizandra do sétimo ano, as atividades estão sendo desenvolvidas tranquilamente. “As tarefas estão tendo um bom desenvolvimento. A professora manda as atividades pelo WhatsApp e toda a família ajuda. Gravamos vídeos, tiramos fotos, fazemos as atividades no caderno e enviamos para a professora. E até agora, graças a Deus, está sendo muito bom, muito proveitoso. Com as minhas filhas não estou tendo dificuldades”, afirma. O medo das incertezas relacionadas ao futuro também se faz presente na fala dessa mãe quando ela diz que “se fossem aulas presenciais, eu não teria coragem de mandar as minhas filhas pra escola”, desabafa. Sentimento que, infelizmente, se estende por muitas famílias.

O outro lado: docência. Uma experiência desafiadora. Se para os pais o contexto é de dificuldade e superação, para os educadores a situação é a mesma, como revela a professora Mirta Luciene: “o mundo se deparou com o diferente, isso é muito difícil para a maioria das pessoas, porque o diferente nos causa medo. O importante é não parar e continuarmos desempenhando vários métodos, para poder atender nossos alunos. Temos que pensar em estratégias para que os alunos sintam-se engajados. Eu estou aprendendo a usar algumas ferramentas antes nunca utilizadas via internet, não é nada fácil, porém, muito gratificante. Nunca é tarde para aprendermos algo. Penso que tudo isso, abrirá novas ideias e caminhos no ramo educacional. A experiência  está  sendo positiva”, conta. 

Para os alunos, foco no objetivo. O pequeno Valnir Filho, 10 anos, aluno do quinto ano com a professora Mirta na Escola Bentonit União, se diz satisfeito com as videoaulas: “estão sendo muito boas, o que você aprende na sala de aula dá pra aprender dentro de casa. O desenvolvimento é o mesmo, as aulas são muito boas. O importante é você aprender”, revela empolgado adaptando-se com a nova realidade.

A psicóloga Patrícia Vitorino, fala que a pandemia também pode ser um momento de fortalecimento. “No tocante aos desafios que essa pandemia nos trouxe, há uma incrível capacidade do cérebro em criar novas possibilidades de enfrentamento de doenças ou pensamentos negativos que sobrevoam a mente das pessoas através do medo que é o principal inimigo de toda e qualquer cura. Apesar disso, em níveis moderados e de acordo com a necessidade das circunstâncias, esse medo nos protege. Porém, o medo acima do normal paralisa o indivíduo e requer novas adaptações. É como disse Buda "a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional", pois depende de como cada indivíduo reage ou enfrenta seus maiores desafios”, finaliza.

O prefeito André Gomes reafirma o compromisso com a educação do município de Boa Vista: “não estamos medindo esforços para garantir a qualidade do ensino para os estudantes boavistenses. Sabemos que estamos vivenciando uma situação atípica, mas o apoio da gestão administrativa à secretaria de educação é integral. Trata-se de um trabalho de equipe. Ainda quero lembrar que no início de junho estaremos realizando a segunda etapa da entrega dos kits de alimentos aos alunos da rede municipal de ensino. Somos elos, juntos somos correntes”, expressou o gestor.

A Secretaria de Educação de Boa Vista reafirma a importância de alunos, familiares, equipe pedagógica e população em geral tomarem os cuidados necessários para evitar a contaminação pelo novo coronavírus. Se cada um fizer a sua parte, logo mais às aulas presenciais retornarão.

São novos tempos. Tempo de readaptação, mudanças, esforços, superação de obstáculos e de muito amor pelo ato de educar. São tempos de redescobertas. As salas de aulas cheias de alunos, repletas de cabecinhas pensantes, ansiosos por cada novo aprendizado; os corredores movimentados cheios de alegria, euforia e relações sociais, foram, temporariamente, substituídos pelo aconchego do seio familiar. Distância e saudade. Mas a certeza que temos no coração é a de que logo mais estaremos todos juntos outra vez. Aprendendo, evoluindo e respeitando. Assim, seguiremos fortalecendo o nome do nosso município como um dos grandes destaques positivos na educação paraibana.


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